Jiboia (Boa constrictor)
Atenção! O cuidado da jiboia não é possível por tutores inexperientes. Se você tem interesse nessa espécie, aqui estão os princípios básicos de sua manutenção.
A propósito, como sempre procuro lembrar a quem quer ter um animal de estimação, vamos procurar saber tudo o que é necessário para cuidar da espécie e dar a ela a melhor qualidade de vida possível. Afinal, estamos lidando com vidas!
Um dos fatores que mais impulsiona a demanda na criação de serpentes é a praticidade na sua manutenção, quando comparada à criação de aves e mamíferos. Uma serpente adulta pode chegar a comer uma vez ao mês, enquanto aves e mamíferos requerem alimentação e cuidados diários. A interação das serpentes com os seus proprietários é bem menor se comparada a outros animais, mas elas, ao contrário do que muitos pensam, podem sim reconhecer seus donos pelo cheiro e pela forma como eles se habituam a manejá-las.
Todo o misticismo que envolve os répteis fascina e estimula o conhecimento sobre sua biologia, origem e mitos. Quando menos se espera, o proprietário passa a ser um educador e desmistificador, auxiliando na conservação destes animais que, ainda hoje são mortos indiscriminadamente por falta de conhecimento e crendices populares.
Quanto à transmissão de
doenças, devido à grande distância evolutiva que separa os répteis dos seres
humanos, as doenças que acometem um, praticamente não acometem o outro.
Existe toda uma especiação na microbiota destes animais e nos parasitas que os
acometem. Dos poucos registros que se tem notícia, podemos citar alguns casos
de Salmonelose em crianças que foram contaminadas após colocarem tartarugas
aquáticas na boca. A Salmonela é uma bactéria presente na microbiota intestinal
dos répteis, por isso devemos tomar o cuidado de manter o terrário limpo e
lavar bem as mãos após sua higienização e após qualquer tipo de contato com as
fezes do animal.
Até o momento não existem relatos de pessoas que contraíram parasitas de
répteis, mas de toda forma, oferecer um alimento de qualidade e manter o
controle de saúde com o seu veterinário, eliminam qualquer possibilidade de
risco. Entre todos os animais mantidos hoje em dia como pets, os répteis são
sem dúvida os mais seguros quando o assunto é zoonose.
Quanto às mordidas, elas ocorrem em sua grande maioria, por erro de manejo. O maior estímulo para estes animais é o olfato e, durante a alimentação, as serpentes ficam extremamente atentas. No intuito de se alimentarem, podem dar bote ao mínimo movimento. Podemos afirmar que a imensa maioria das mordidas acontece durante a alimentação, portanto essa atividade requer mais atenção. Os dentes das serpentes são bem superficiais e tendem a se quebrar com certa facilidade, nas serpentes em questão, os mesmos são pequenos e maciços, sem nenhum canal ou sulco com função de conduzir peçonha. Em caso de mordidas, alguns dentes do animal podem se partir, o que não traz maiores problemas tanto para o animal quanto para a pessoa mordida. Nesse caso, devemos proceder como se fosse uma farpa de madeira ou algo do gênero: apenas removê-la (com o auxílio de uma pinça, quando necessário). O local da mordida deve ser bem higienizado e em caso de dúvidas um médico deverá ser consultado.
Apesar de sua aparência intimidante, as cobras são animais frequentes nas casas dos amantes de répteis. Porém, os cuidados exigidos pela jiboia são bastante específicos, por isso não é um animal exótico adequado para iniciantes.
Se a sua intenção é começar a reunir informações sobre os cuidados com essa espécie, aqui está um guia básico pensado para mostrar tudo o que uma jiboia necessita para ser mantida em cativeiro. Não perca.
A jiboia (Boa constrictor) é um ofídio da família Boidae. Existem 8 subespécies reconhecidas dentro desse táxon cujo tamanho pode variar de 1,5 metros de comprimento a 4 metros. São répteis bastante pesados, atingindo massas corporais de até 40 quilos. Alguns exemplos de jiboia são Jiboia arco-íris da Amazônia (Epicrates cenchria cenchria), Jiboia da Argentina (Boa constrictor occidentalis), Jiboia arco-íris do Norte (Epicrates cenchria maurus) e Jiboia arco-íris da Caatinga (Epicrates cenchria assisi). Existem diversas outras.
A coloração das jiboias é variada e, dependendo da subespécie, podemos observar diferentes padrões. Alguns indivíduos, por exemplo, apresentam a cor cinza predominante; outros, a coloração marrom; e existem ainda aqueles que possuem coloração bem escura, quase no tom de preto. As escamas das jiboias são pequenas e irregulares.
A cabeça das jiboias é bem destacada do restante de seu corpo e apresenta um formato retangular (veja próxima figura). Os olhos apresentam pupilas verticais. Esse animal apresenta uma musculatura do corpo bem desenvolvida, sendo essa musculatura fundamental para comprimir o corpo de sua presa. Para capturá-la, essas serpentes contam com sentidos desenvolvidos, sendo capazes de captar estímulos térmicos, químicos e visuais.
As jiboias são serpentes encontradas em várias regiões da América Central e América do Sul. No Brasil, é comum encontrar jiboias na Amazônia, na Mata Atlântica, no Cerrado, na Caatinga e no Pantanal.
Vive em habitats de baixa umidade, como desertos e savanas, embora às vezes seja encontrada em florestas úmidas. É capaz de subir em árvores e descansar em galhos.
As jiboias são animais mais ativos durante a noite, entretanto, podem ser observadas durante o dia em busca de um local para se abrigar. Elas são encontradas tanto no solo quanto sobre as árvores, apresentando, portanto, hábitos terrestres e semiarborícolas.
Essa cobra é chamada de constritora por causa da forma como caça: primeiro fisga sua presa com uma mordida e depois se enrosca em torno dela. Uma vez nessa posição, ela contrai o animal com força, impedindo-o de respirar e esmagando seus ossos para poder engoli-lo melhor. As cobras constritoras não são venenosas, mas podem matar um ser humano.
Quanto à criação em cativeiro, o primeiro aspecto antes de adquirir um desses animais, e o mais importante a se levar em consideração, é verificar se a posse de uma jiboia é legal em seu país. Em certos lugares, o comércio ou posse dessa espécie de cobra não é permitido. Por outro lado, a jiboia está incluída no apêndice II da CITES (O objetivo desses regulamentos é coibir o comércio ilegal e evitar que certos animais se tornem espécies invasoras).
De qualquer forma, nunca deve ser retirada da natureza, como nenhum animal silvestre, configurando crime ambiental. Segundo alerta emitido pelo Ibama, apenas áreas rurais e devidamente autorizadas podem ter criatórios de cobras e ofidários. Coletar cobras direto da natureza sem autorização do Ibama é considerado crime ambiental que prevê multa de R$ 500 e de R$5 mil se a espécie estiver ameaçada de extinção, além de detenção de 6 meses a um ano. Também é crime ambiental instalar um criatório sem licença. Nesse caso, o empreendimento está sujeito a multa de R$ 500 a R$ 10 milhões e a pena pode ir de 1 a 6 meses".
Quem se interessar pela criação de cobras, deve adquirir os animais de criadores legalizados junto ao Ibama.
Se a posse de uma jiboia é permitida em seu país e você conseguir toda a documentação necessária para tê-la, o próximo passo será buscar informações sobre as características da subespécie escolhida. Por exemplo, o tamanho que pode atingir será muito relevante para sua correta acomodação e manuseio.
Considere seriamente se você pode levar para sua casa um animal carnívoro, não domesticado, solitário e crepuscular. Você terá que alimentá-la com outros animais e arcar com altos custos de manutenção. Além disso, as jiboias são animais que apresentam uma expectativa de vida relativamente alta. Em média, esses animais podem viver de 25 a 30 anos.
A jiboia deve ter sempre à disposição água limpa e fresca, de preferência engarrafada. Você também deve fornecer um recipiente para se banhar, especialmente durante a troca de pele.
Por outro lado, a dieta principal da jiboia será composta de pequenos mamíferos. Dependendo do tamanho da cobra, as presas podem variar de camundongos a coelhos, porquinhos-da-índia, ratos e outros roedores. Normalmente um pequeno mamífero por semana é o suficiente, mas a frequência de alimentação dependerá do animal e de suas necessidades.
O ideal é acostumar a jiboia a consumir animais mortos, caso contrário poderá se acidentar se a presa se defender. Embora as vítimas possam ser compradas congeladas em lojas especializadas, ofereça-lhes corpos quentes, de preferência aquecidos em uma panela com água fervente.
De acordo com a médica-veterinária especializada em animais exóticos Amanda de Souza existe um equívoco bastante comum entre tutores de cobras: o de que elas devem se alimentar apenas de presas vivas. Segundo ela, “Mesmo na natureza, as cobras não perdem a oportunidade de comer alimentos fáceis perto delas, como um animal morto recentemente”, explica.
“É fato que a cobra prefere se alimentar de presas vivas, as quais, muitas vezes, ela mesma mata por estrangulamento. No entanto, não é necessário dar presas vivas para a saúde da cobra de estimação”, diz. Para facilitar a vida do tutor, alguns pet shops já vendem bichos inteiros mortos, como aves e roedores, para alimentar cobras.
A médica-veterinária defende que alimentar cobras domésticas com animais já mortos é o método mais seguro para o pet. “Ratos, por exemplo, são rápidos, espertos e têm dentes letais. As cobras, por sua vez, são lentas e só conseguem matar por estrangulamento. A chance de a cobra se machucar ou até mesmo morrer com um contra-ataque da presa é grande”, exemplifica.
Caso a sua cobra de estimação prefira se alimentar de uma presa que se mova, Amanda recomenda que o tutor compre um par de pinças longas. Utilizando as pinças, segure o alimento e mova-o suavemente a poucos centímetros do campo de visão da cobra. Ela pensará que o animal está vivo e o comerá. Nunca utilize as mãos para fazer isso, orienta a especialista, pois a cobra pode confundir sua pele com a presa e te morder.
Depois de comer, deixe a cobra descansar, pois sua digestão é lenta e pesada. Se você notar que ela regurgita a presa, talvez tenha sido um espécime muito grande.
Terrário da jiboia
Dentre todos os cuidados da jiboia, a qualidade da instalação é o mais importante. A melhor acomodação para essa cobra é um terrário mais alto do que largo e grande o suficiente para abrigar um galho, um abrigo e um recipiente com água. O objetivo é dar à jiboia a chance de exibir seu comportamento natural de subir em árvores.
Qual deve ser o tamanho do terrário de uma jiboia? Não existe um tamanho padrão, pois vai depender das dimensões que o próprio animal atingir. Aqui estão algumas medidas aproximadas:
- Filhotes: a pequena cobra será capaz de se adaptar a viver em um terrário de 60 x 50 x 30 centímetros de comprimento, largura e altura. Esse terrário será temporário, pois o animal vai crescer e você terá que trocá-lo.
- Jovem: quando a cobra atinge a idade adulta e mede até 2 metros de comprimento, o tamanho mínimo do terrário deve ser de 150 x 90 x 70 centímetros de comprimento, largura e altura.
- Adultos: uma vez que a jiboia atinge seu tamanho máximo, não pode ficar em um terrário menor que 300 x 100 x 70 centímetros de comprimento, altura e largura. Porém, o ideal é manter o animal no espaço maior possível.
O mais econômico é transferir a cobra para seu terrário definitivo quando atingir a idade adulta. Um espaço pequeno tornará facilitará o manuseio do espécime enquanto filhote, mas quando for trocá-lo, faça isso apenas uma vez e escolha o maior recipiente que puder.
Aclimatação do terrário
As cobras são animais ectotérmicos, o que significa que sua temperatura corporal é altamente dependente do meio ambiente. Consequentemente, outro dos cuidados mais importantes para uma jiboia é manter os parâmetros de umidade e temperatura ideais para seu bem-estar.
A temperatura ideal para uma jiboia é entre 24 e 26° C e nunca deve cair abaixo de 22° C. Existem muitas fontes de calor adequadas para cobras, mas as melhores são as placas térmicas e as lâmpadas de calor de cerâmica que não emitem luz.
Não permita que a cobra entre em contato direto com a fonte de calor para evitar queimaduras acidentais.
A umidade é outro fator essencial para o controle. Para essa espécie, deve variar entre 50 e 60%, e 70-75% para evitar disecdise na época da muda. Usar um substrato de qualidade ajudará a estabilizar a umidade dentro do terrário. Cânhamo ou fibra de coco são boas opções para isso.
Itens do terrário
Projetar e montar o terrário é para muitos amadores a tarefa mais divertida que está incluída nos cuidados exigidos pela jiboia. É um processo satisfatório e especializado, ideal para quem gosta de pesquisar e criar os melhores ambientes para seu animal.
Os principais componentes de um terrário são o substrato, o abrigo e o enriquecimento. Vamos vê-los um por um:
- Substrato: conforme mencionado acima, o substrato ideal é cânhamo ou fibra de coco. Algumas pessoas também usam casca de choupo. Em qualquer caso, certifique-se de não usar madeira de cedro, pois é tóxica para muitos répteis.
- Abrigo: como a jiboia descansa durante o dia e tem que regular sua temperatura corporal, o ideal é colocar 2 abrigos em suas instalações, um na zona quente e outro na fria. Dessa forma, o réptil pode escolher. Fixe o abrigo firmemente e forneça um método de acesso, como um galho, para que possa subir nele.
- Outros elementos: os galhos e a piscina de água são elementos que permitem à cobra apresentar comportamentos naturais. Isso serve como enriquecimento e previne problemas de saúde.
Como limpar o terrário de uma jiboia?
A limpeza completa do terrário deve ser feita pelo menos uma vez por mês, talvez com mais frequência se a cobra for grande. Retire diariamente as fezes e demais resíduos orgânicos do substrato, sempre com cuidado e mantendo o animal localizado o tempo todo.
Pense que um terrário fechado, com fontes de calor e no qual existem restos de animais é um substrato perfeito para a proliferação de fungos, bactérias e parasitas.
Para a limpeza, é melhor usar uma mistura de 10% de água sanitária e 90% de água. Para o vidro, você pode usar uma solução alcoólica específica para limpar vidros. Use panos limpos e certifique-se de enxaguar bem qualquer vestígio de cloro. Limpe bem todos os elementos do terrário também.
As serpentes são animais frágeis, as principais doenças que podem acometê-las são:
* Pneumonia: as serpentes com pneumonia, geralmente, se mostram apáticas, anoréxicas, apresentam dificuldade para respirar (respiram pela boca), têm corrimento nasal e apresentam desequilíbrio ao nadar;
* Estomatite: geralmente, é uma complicação secundária de pneumonias ou septicemias. Pode ocorrer pela má nutrição, devido a uma deficiência de vitamina C, e quando há deficiência de aquecimento no cativeiro, isso contribui para deixar o animal vulnerável a essa infecção. Alguns sintomas são: ulceração na boca, gengivas e alvéolos dentários. É recomendado procurar um médico veterinário;
* Problema de muda: pode ocorrer do animal não conseguir realizar a troca da pele, o que chamamos de muda encruada. Quando isso acontecer, o tratador deverá borrifar água morna (nunca quente) no animal por alguns dias, outra indicação é mergulhar o animal em chá, morno, de camomila por 15 a 20 minutos, isso facilitará a remoção da pele em muda. Restos de pele entre os dedos, sobre os olhos e cauda pode ser removidos com muito cuidado pelo tratador, sempre borrifando água.
* Paramixovirose: essa doença ataca, geralmente, as jararacas, jiboias e cascavéis. Ela se manifesta de inúmeras maneiras e, para diagnosticá-la, é necessário que o tratador esteja sempre atento aos animais do seu plantel, pois, em estádios avançados, todos os animais do criatório são contaminados. Os sintomas mais comuns são respiratórios e neurológicos. A serpente pode expulsar o conteúdo caseoso e purulento pela glote, geralmente apresentam tremor e perda de equilíbrio, e, quando apresentam esses sintomas, já estão com indícios de óbito. É um caso complicado, pois não há tratamento, e os animais acometidos precisam ser sacrificados.
A presente dica é parte integrante do curso Criação de Serpentes para Produção de Veneno, desenvolvido pelo CPT - Centro de Produções Técnicas.
Como você pode ver, as ideias mais básicas dos cuidados exigidos por uma jiboia ocupam algumas seções. Partindo do princípio de que você está assumindo uma grande responsabilidade ao cuidar de tal animal, o último conselho é ter um veterinário de confiança, especializado em répteis, sempre disponível. Ele será o profissional que melhor o guiará no que diz respeito a manter sua cobra saudável.
Devemos ter muito cuidado e responsabilidade ao cuidar de um animal, afinal estamos lidando com vidas. Devemos sempre buscar oferecer o melhor para o animal, até porque eles dependem de seu tutor para ter a melhor qualidade de vida possível em cativeiro. Vamos pensar nisso antes de adotar ou adquirir um animal!
Fontes:
https://meusanimais.com.br/cuidados-jiboia/
https://www.jiboiasbrasil.com.br/site/index.php/manuais-de-criacao
https://brasilescola.uol.com.br/animais/jiboia.htm
https://correiodoestado.com.br/cidades/ibama-alerta-sobre-criacao-de-cobras-em-cativeiro/119262/
https://portalmelhoresamigos.com.br/cobras-domesticas-podem-comer-presas-ja-mortas/
https://www.cpt.com.br/dicas-cursos-cpt/criacao-de-serpentes-doencas-mais-comuns
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